terça-feira, 22 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL



A todas/os que visitam este Blogue e o DeusaNocturna, desejo
UM SANTO NATAL e um FELIZ 2010



terça-feira, 3 de novembro de 2009

O que aprendi contigo




O desencontro das tardes, uma febre
de profecia, a sede de sal dos lábios
sequiosos, a ferida tranquila de um espinho
de rosa, o amor que acontece, as águas da noite
quando os rios se calam, o olhar vigilante
de uma lua sem céu.

Às vezes, ouvia-te no corredor
sem fim, como se os passos da sombra
pudessem ecoar na minha cabeça; e
abria-te a porta, para que uma ausência
branca entrasse no quarto em que te
esperava, para um sempre que nunca foi.

E sentavas-te na cadeira do fundo,
atrás de mim, pedindo-me que te olhasse
no espelho obscuro da memória. Mas
não me voltei, para não ver o lugar vazio
que deixaste na casa solitária do inverno,
sob o véu nupcial que as aranhas teceram.

Nuno Júdice

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desejo...


Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outros sim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Victor Hugo

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A tua alma merece



Os pássaros me acordaram
Quando o madrugar clareou;
Com o seu chilrear me lembraram
Um novo rosto que chegou...

O seu corpo imagino a flutuar,
Num jardim de mil aromas e desejos
Onde, entre o sol e o luar
Gostava de receber seus doces beijos.

Vem não tenhas medo
Eu guardo segredo
Às nuvens quero ir contigo...

Se a amizade o amor tece
A tua alma merece
Ter um poeta por Amigo.

Joaquim Brandão

Valsa da Vida

Valsa da vida
de lá para cá
de cá para lá
em rodopio
constante.
Mão com mão
braços nas cinturas
corpos unidos
na suavidade
de notas
e ritmos
com indefinidos
rumos
... é a valsa da vida!...


Eduardo Roseira

Setembro é um bom mês para começar


E se os melhores dias das nossas vidas
ainda estiverem para vir?
Isto qundo acaba, acaba. E se estamos
vivos, ainda não acabou.
Dizem os velhos mesmo velhos que Setembro
é mes de recordar. Mas a nossa vida é toda
para adiante. Os velhos que recordem e
relembrem, deixá-los a teorizar sobre
erros feito e refeitos. Nós, vamos calçar
os nossos melhores sapatos e vamos ver
o que a noite tem para mostrar. Vamos
à nossa vida sem nos preocuparmos em
lembrar.
Vamos dar à sola com o coração todo à
mostra.
Quem procura, anda à procura e os caminhos
fazem-se caminhando.
O que tens à tua frente é um primeiro
passo.
O tens nas mãos é um mapa para um
começo possível, um brinde eterno aos
novos inícios.
Avança, Setembro é um bom mês para começar
outra vez.

Autor Desconhecido

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Alma perdida de poeta


Sou alma perdida de poeta. Sou botão de rosa ainda por desabrochar. Sou melodia desafinada preparada para ser melhorada pelos compositores, pelos protagonistas da minha música. Sou o livro por preencher, as páginas que aguardam ser recheadas de histórias e contos. Sou a alma desencontrada de poeta. Sou a imagem que vejo ao espelho não sabendo, no entanto, quem verdadeiramente sou. Sou o botão de rosa que espera o seu momento para desabrochar. Espero ser dominada por palavras tão perfeitas! Olho para a minha imagem e noto o quanto preciso de engrandecer. O quanto necessito de crescer e de saber arriscar. Sou quem sou e ao ser quem sou transcrevo escrevendo aquilo que me domina não sabendo no entanto o que realmente faço. Sou alma perdida de poeta que anseia ser descoberta.

Vera Garcia

domingo, 27 de setembro de 2009


Uma mesma capa



Sou dois livros com uma mesma capa. Dois estilos diferentes de uma só história. Sou lida consoante os dias, os tempos, as alturas. Sou duas faces e mostro uma mesma cara. Quem me lê aprofundadamente conhece todas essas diferenças que me tornam tão igual a mim mesma. Mergulho num mar de palavras quando não suporto mais a pressão de todos os sentimentos que me dominam e que fazem de mim um cofre de lotação completamente esgotada. Consigo ser o que não sou porque parte de mim quer fugir de uma rotina fatigante e que me assombra. Tento, no entanto, e posteriormente, regressar a mim; a um eu que desprezo verbalmente e que adoro espiritualmente. Quando regresso a mim posso analisar todos os erros que cometi, posso tentar soluciona-los. Peço desculpa, sou um mero ser humano envergado por sensações e acontecimentos que moldam a sua reacção. Possuo, no entanto, uma personalidade que me define e essa, garanto, não mudara. Porque posso ser dois livros diferentes, mas possuo a mesma capa. E a mesma historia.

Vera Garcia

sábado, 26 de setembro de 2009



Não sei se saberei descrever
o vício das mãos. Sei, amor, que das asas dos pássaros
tiraste o entendimento e
pelo desejo ardendo no sentido da pele
reabres essa flor que os espantos floresce.
Absorvida em ti, me consumo no ritmo lento
de esperar a consumação dos dedos
na fogueira que o amor descreve.
Entras pelas mãos no meu vício
e nele ficamos os dois retidos
na mesma insinuação.
Nada mais nos sobra que a memória
desse instante:
Consumidos de sois ardentes,
reapoderamo-nos das luzes tacteis
que o coração das sombras nos permite.

Bernardete Costa


Cavalo à Solta




Minha laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve
Breve instante da loucura
Minha ousadia, meu galope, minha rédia,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa
Em ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha laranja amarga e doce
Minha espada, meu poema feito de dois gumes
Tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo
Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura.

José Carlos Ary dos Santos

segunda-feira, 14 de setembro de 2009



Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.

Fernando Pessoa

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Não sei



Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais, mas que seja intensa,
verdadeira, pura... Enquanto durar.


Cora Coralina

Sou



Sou alma,
sou dor.
Sou sonho,
e amor.
Sou peixe,
ou pássaro,
sou tigre,
sou flor.

Sou céu,
sou mar.
Sou sol
ou luar.
Sou imagem
ou talvez ilusão.
Sou paisagem
sou emoção.

Sou morte,
sou vida,
sou criança
esquecida.
Sou papel
amachucado.
Sou o mel
só por ti provado.

Sou quem sou,
o que sou,
apenas eu,
de ti nada ficou.



Joaninhah
12/01/2003

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Rotação


É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar.

Nuno Júdice

sexta-feira, 14 de agosto de 2009



"Procuro os teus olhos sem saber qual a cor e vejo os teus lábios sem conhecer a forma que tem o teu sorriso.
Aninho os meus sonhos num abraço que duvido. Não espero que chegues, nem sei se partes.
Tua voz entoada nas palavras que tão bem reconheço.
As duas misturam-se e harmonizam tentando vencer as minhas dúvidas. Uma dando, a outra apoiando, e sinto-me perdida.
Estendo as mãos, peço auxílio e recolho em cada mão os gestos de uma e de outra.
Se choro não é pela ausência das duas mas apenas por ter uma e outra, sem saber qual delas me recolheu e qual delas me abandonou.
Duas culpas de um só delito.
Duas vidas que comandavam a minha, uma pela presença, outra pela ausência.
Culpo uma pelo bem que me deu e desculpo a outra pelo mal que me fez."


Outras Verdades - Carmen Velosa

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Dor Que Dói Mais




Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Apaixone-se



"Fizeram-nos acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não nos contaram que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.
Fizeram-nos acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não nos contaram que já nascemos inteiros, que ninguém na nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta. Crescemos através de nós mesmos. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável.
Fizeram-nos acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas a pensar igual, a agir igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.
Fizeram-nos acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.
Fizeram-nos acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.
Fizeram-nos acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém nos vai contar isso tudo. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando tu estiveres muito apaixonado por ti mesmo, vais poder ser muito feliz e te apaixonar por alguém"

John Lennon

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pedaços de Mim


Eu sou feita de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feita de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.

Martha Medeiros

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Carta de Orfeu a Eurídice



Aqui, é o centro. Onde a solidão me
impregna com o seu sudário de lodo, e a humidade dos fundos
desce pelos vidros da noite, apagando as imagens
amadas. No entanto, parto esses vidros para ver o que
ficou para trás: que alquimia de sensações corre ainda
por esses campos onde avançavas, com a falsa convicção
do amor, levando-me atrás de ti até ao limite
de onde não há regresso? Que abraço de corpos sobrevive
no chão seco de palavras, enquanto te levantas da memória,
e o teu rosto se ilumina por entre os brilhos da manhã?

Parece-me que é tarde para acertar as coisas
que deviam ter sido feitas: ajustar as peças do presente nessa mesa
onde se acumulavam copos e papéis; separar as questões que
os dedos escondiam das respostas que entravam pela boca
do desejo, até um êxtase de mãos e de olhos. Contei as queixas,
transformei-as na mais doce das celebrações, arrastei
o instante até à berma da eternidade: e trouxe de volta
a mais dolorosa das ilusões. De cada vez, porém, era
único esse tempo nascido de uma partilha de lugares; e
não dei pelo vento que soprava de dentro da vida, levando
em direcções diferentes os passos que nos juntavam.

O futuro pertence aos cegos da imaginação; as suas
paisagens estendem-se por esses caminhos que não voltaremos a
seguir, até aos arbustos do horizonte. Não ouço nenhuma voz
nos pórticos que se abriram para a mais efémera das alegrias -
que se confunde com um rosto incessante no interior
da alma, a pura inscrição do amor. Guardo-te aí, flor matinal,
esperando que a água da vida te refloresça, e uma nova
vibração te devolva à ilusão do presente. O centro é este: o lugar
do encontro, onde os deuses nos roubam ao acessório,
e um todo se fixa no que é aparente, e passa.


Nuno Júdice

domingo, 26 de julho de 2009



Partimos pelo mundo fora em busca dos nossos sonhos e ideias.
Muitas vezes colocamos nos lugares inacessíveis o que está ao alcance das mãos.
Quando descobrimos o erro, sentimos que perdemos tempo, buscando longe o que estava perto.
Culpamo-nos pelos passos errados, pela procura inútil, pelo desgosto que causamos.
Diz o mestre:
Embora o tesouro esteja enterrado em sua casa, você só irá descobri-lo quando se afastar.
Se Pedro não tivesse experimentado a dor da negação, não teria sido escolhido para chefe da igreja.
Se o filho pródigo não tivesse abandonado tudo, não seria recebido em festa pelo pai.

Existem certas coisas nas nossas vidas que têm um selo que diz:
" Você só irá entender o meu valor quando me perder - e me recuperar".
Não adianta querer encurtar esse caminho.

Paulo Coelho - Maktub

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Metade


Que a força do medo não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, e a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja para sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, a outra metado é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne o menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembre ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para fazer me aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é plateia, a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor, e a outra metade também.


Oswaldo Montenegro

Sonhos frustrados!




Estou de Volta!


Pois é, estou de volta!

Neste blogue colocarei poemas e textos de autores que aprecio, de pessoas amigas (que me autorizem a publicar o que escrevem) e ainda aqueles que vou encontrando pela net e que sejam do meu agrado.

Espero que sejam do vosso também!

Obrigada por me lerem!