domingo, 6 de março de 2011

Soneto



Lábios que encontram outros lábios
num meio de caminho, como peregrinos
interrompendo a devoção, nem pobres
nem sábios numa embriaguez sem vinho

Que silêncio os entontece quando
de súbito se tocam e, cegos ainda,
procuram a saída que o olhar esquece
num murmúrio de vagos segredos?

É de tarde, na melancolia turva
dos poentes, ouvindo um tocar de sinos
escorrer sob o azul dos céus quentes,

Que essa imagem desce de Agosto, ou
Setembro, e se enrola sem desgosto
no chão obscuro desse amor que lembro.

Texto: Nuno Júdice
Foto: Paulo Dias

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